APRENDENDO COM O TEXTO

 

A VAGUIDÃO ESPECÍFICA

 

A vaguidão específica - Millôr Fernandes

 

 

 

"As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica."
-Richard Gehman-

 

 

- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
- Junto com as outras?
- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
- Sim senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- Que é que você disse a ele?
- Eu disse pra ele continuar.
- Ele já começou?
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
- É bom?
- Mais ou menos. O outro parece mais capaz. 
- Você trouxe tudo pra cima?
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.
- Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
- Está bem, vou ver como.

 

 

CONVERSANDO SOBRE O TEXTO

 

      O texto, primeiramente, é um diálogo, o qual envolve dois personagens (Maria e a patroa). É classificado como um discurso direto, pois a fala das personagens foi reproduzida de maneira direta. Percebe-se que toda a conversa acontece na casa da patroa de Maria. Alguma coisa está acontecendo na casa, talvez uma reforma, mas não está explícito no diálogo, não está claro. 

      Diálogo é um gênero textual, há inúmeros e infinitos gêneros textuais em nossa língua, pois a Língua Portuguesa é viva e ativa, está em constante tranformação/renovação. Novidades surgem a cada dia, portanto, gêneros textuais vão aparecendo com o decorrer da evolução de nossa língua.

      Voltando ao diálogo... qual o assunto da conversa? Parece que elas estão falando em código? Você entendeu o que realmente está acontecendo?

      Com certeza ninguém conseguirá responder de forma clara e direta estas perguntas. Mas aí vem outra interrogação: A conversa acima demonstra que a mulher é mesmo vago-específica quando quer explicar/dizer algo? O texto está, ou não, generalizando tal característica às mulheres? Você concorda com tal opinião?  Diversas perguntas e exemplos poderão surgir, a respeito do tema proposto, em uma sala de aula.

      Foi possível perceber o quanto o uso de textos é essencial para o ensino de Língua Portuguesa. A partir do texto surgem diversos assuntos, diferentes opiniões, debates acontecem e enriquecem a turma. A partir do "A vaguidão específica" o professor poderá, também, ensinar tipos de textos, gêneros textuais, discurso direto e indireto, sinais de pontuação, advérbios, entre outros assuntos gramaticais. Poderá, e deverá, também, conhecer um pouco sobre o autor do texto, sobre sua literatura.

      Sou a favor do uso de textos para ensinar as regras da Língua Portuguesa. Frases descontextualizadas não dão muito sentido, não facilitam a aprendizagem, nem são muito interessantes numa aula. 

 

Professora Lúcia Bispo (lbrevisaodetextos@gmail.com)